SUGESTÃO DE LEITURA: Alfabetização ecológica

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O livro “Alfabetização Ecológica” trata basicamente de uma educação para uma vida sustentável. Impresso pela editora Cultrix, o livro reúne diversos ensaios de diversos pensadores e educadores que tentam, por mais utópico que pareça em um primeiro momento, reorientar o modo como os seres humanos vivem. O conceito de alfabetização ecológica, que nasceu das teorias de Fritjof Capra e de outros líderes, visa uma transformação profunda na educação, ou melhor, “no conteúdo, no processo e no alcance da educação em todos os níveis”. Este livro é a primeira publicação em língua portuguesa do chamado Centro de Eco-Alfabetização, em inglês, Center for Ecoliteracy. Assim, “Alfabetização Ecológica” “reúne teoria e prática com base no que existe de mais avançado em termos de pensamento sistêmico, ecologia e educação”.

Talvez o maior problema do livro seja justamente o seu aspecto utópico. A primeira frase do prólogo já dá um pouco o tom do que está por vir: “a descoberta mais importante dos dois últimos séculos é a de que estamos todos juntos num mesmo experimento frágil, vulnerável aos acontecimentos, ao julgamento equivocado, à visão estreita, à ganância e à má-fé”. Sem dúvida uma frase bem bonita, mas, ao mesmo tempo, vazia e melodramática. Primeiro, eu gostaria muito de saber de onde o senhor David Orr tirou que estamos num experimento frágil e vulnerável aos acontecimentos. Depois, eu gostaria de saber que experimento é este em que nós estamos e, aliás, já que estamos num experimento, gostaria de saber quem nos botou nesse experimento. Após esta frase seguem-se outras também sem nenhum sentido e que incomodam pessoas que tem um pouco mais de cuidado com o que falam.

Mas, continuando na breve análise do livro temos os textos de Fritjof Capra. Aliás, creio que é ele quem faz o livro ser digno de ser comprado. Fritjof apresenta já no prefácio um bonito trecho: “uma vez que a característica mais proeminente da biosfera é a sua capacidade inerente de sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável terá que ser planejada de maneira tal que os seus estilos de vida, tecnologias e instituições sociais respeitem, apóiem e cooperem com a capacidade inerente da natureza de manter a vida”. Este trecho é bonito e nos chama a atenção para o imperativo de respeitarmos e, mais do que respeito, nos unirmos ao meio-ambiente para que possamos ser viáveis, enquanto espécie, à longo prazo. Apesar de bonito e exortador, se observarmos realmente este trecho, como muitos outros do livro, mesmo os que pertencem aos ensaios de Fritjof Capra, perceberemos que são ditas muitas coisas que são até certo ponto bastante óbvias. Talvez o mérito esteja justamente aí, ou seja, em trazer o óbvio (que é óbvio mas é importante), à tona. Ou talvez justamente isso seja o ponto fraco do livro, ou seja, repetir o óbvio com palavras diferentes e bonitas. Saber qual dos dois é o correto fica a cargo de você que lerá o livro.

Este obra deve ser lida com o mesmo cuidado com que a dona de casa separa o feijão antes de cozinhá-lo para o almoço, ou seja, faz-se necessário separar o feijão (partes boas do texto) da casca (partes ruins do texto), processo que em química é conhecido como catação e que em literatura é conhecido como inteligência. O último parágrafo do prefácio, escrito por Fritjof Capra, é uma espécie de profissão de fé do que objetiva o livro e da própria existência do livro enquanto obra escrita em colaboração com tantos autores, de visões muitas vezes diferentes mas que, apesar de tudo, guardam semelhanças capazes de fazer com que organizações não-governamentais como o centro de eco-alfabetização continuem existindo e crescendo.

“A educação por uma vida sustentável estimula tanto o entendimento intelectual da ecologia como cria vínculos emocionais com a natureza. Por isso, ela tem muito mais probabilidade de fazer com que as nossas crianças se tornem cidadãos responsáveis e realmente preocupados com a sustentabilidade da vida: que sejam capazes de desenvolver uma paixão pela aplicação dos seus conhecimentos ecológicos à reformulação das nossas tecnologias e instituições sociais, de maneira a preencher a lacuna existente entre a prática humana e os sistemas da natureza ecologicamente sustentáveis”. Negritado por mim. (Thiago Meirelles)

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